Policiais penais vivem epidemia de doenças psiquiátricas
Um em cada cinco policiais penais de São Paulo está afastado do trabalho por problemas de saúde. Levantamento feito pelo Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo (SIFUSPESP) mostra que 22% dos servidores enfrentam problemas médicos e que 10% deste total se referem a doenças psiquiátricas. “O sistema prisional de SP vive hoje uma epidemia de doenças psiquiátricas. São 3,5 mil companheiros afastados por depressão, ansiedade crônica e síndrome de burnout. E mesmo entre os outros afastados, a maioria é por problemas relacionados ao estresse, como diabetes e hipertensão. Quando você vai conversar com o servidor, ouve dele que o ambiente estressante do trabalho, o temor pela própria segurança e da família, são os fatores que os adoecem”, comenta Fábio Jabá, presidente do SIFUSPESP.
Alancarlo Fernet, tesoureiro do sindicato, diz que esse desfalque é grande perto de um efeito já deficitário. “O quadro completo de servidores é de 50 mil (49,5 mil), mas hoje temos apenas 34 mil. E, desses, 7,5 mil estão afastados por doenças que surgem porque somos submetidos a enorme estresse emocional”, aponta Fernet.
Recorde de suicídios
De janeiro a outubro deste ano, seis, dos 34 mil servidores do sistema prisional tiraram a própria vida. O número de suicídios na Polícia Penal é o triplo da média nacional, de 6,3 casos para cada 100 mil habitantes, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “O trabalho dentro de um presídio é massacrante do primeiro ao último minuto. Quando termina o turno de trabalho, a tensão e o medo acompanham o servidor até a casa dele. Sempre que põe os pés na rua teme ser alvo de criminosos”, ressalta Fernet.
Profissão perigo
A Polícia Penal representa a primeira barreira entre a população carcerária e o mundo exterior, por isso os policiais penais costumam ser os primeiros alvos da vingança por parte dos criminosos. “Este ano 10 policiais penais foram vítimas de agressão no trabalho, e um deles foi assassinado na rua por um grupo criminoso. A falta de regulamentação da Polícia Penal deixa um vácuo jurídico para a nossa atuação. Isso faz com que, na prática, nossas ações sejam de polícia. Temos os mesmos problemas que qualquer outra polícia, mas não temos armas acauteladas do Estado nem a proteção jurídica necessária. Com frequência as ameaças atingem nossas famílias. Como ter saúde mental em um cenário desse?”, questiona o presidente do sindicato.
Raio X
O Fórum Penitenciário Permanente, grupo formado por SIFUSPESP, SINDCOP e SINDASP, organiza um seminário no dia 08 de dezembro, da ALESP, para apresentar a autoridades e entidades um raio x completo do sistema penitenciário paulista. Integrantes do grupo de transição também foram convidados para o evento, que vai elaborar um documento a ser entregue aos representantes do governador eleito Tarcísio de Freitas. “Ninguém entende mais da realidade do sistema que nós, policiais penais, que lidamos com todas as dificuldades no nosso dia a dia. Por isso convidamos representantes do Governo de Transição para o seminário. Queremos contribuir com a construção da nova polícia penitenciária do governo”, encerra Jabá.