Dia dos Namorados: psicanalista fala sobre como os solteiros podem ressignificar a data
A cada Dia dos Namorados, as redes sociais são tomadas por fotos e vídeos de jantares românticos, presentes delicados e declarações apaixonadas. Para quem está solteiro, esse excesso de romantização pode acender um sentimento incômodo de solidão ou até de fracasso pessoal. “A gente vive em uma cultura que associa o amor a dois com sucesso, com a felicidade plena. E, quando não estamos vivendo isso, pode surgir a sensação de que estamos errando em algum lugar”, explica a psicanalista Fabiana Guntovitch.
Segundo ela, que é especialista em Comportamento, a idealização do relacionamento amoroso como ponto máximo da realização pessoal é reforçada por todos os lados: filmes, músicas, propagandas, aplicativos de namoro. “Existe essa ideia de que o amor romântico é o destino. Quem está fora disso muitas vezes sente como se estivesse ‘sobrando’, como se estivesse incompleto”, avalia. “Desde pequenos, somos ensinados a buscar validação no olhar do outro — e, no amor, isso fica ainda mais forte. Ser amado parece confirmar que a gente vale a pena. Só que isso é uma armadilha emocional”, completa Fabiana.
A psicanalista explica que a falta de um parceiro pode ativar fantasias inconscientes de rejeição ou de não pertencimento. “Não é só a ausência de alguém. É a ausência simbólica de um espelho, de alguém que confirme quem a gente é. E isso machuca”, diz.
Pensando nisso, a psicanalista propõe que o Dia dos Namorados também seja um convite ao amor-próprio. “Estar só não significa estar em falta. É possível encontrar maturidade emocional em outros vínculos — com amigos, filhos, projetos e, principalmente, consigo mesmo”, defende ela, que ainda alerta que o amor-próprio não substitui o amor romântico, mas vem antes. “É ele que define o que a gente quer, o que não aceita, e o que espera de uma relação. Sem isso, a gente corre o risco de entrar em histórias que não fazem sentido ou que nos machucam”, afirma.
Como uma afirmação a si mesmo, Fabiana garante que aprender e praticar o amor-próprio pode ser um exercício de resistência. “É uma forma de resistência silenciosa. Um jeito de dizer: eu não preciso seguir o script da idealização. Eu posso me bastar — e isso não é pouco”, pontua a especialista.
Fabiana Guntovitch