Boots, da Netflix, é uma incrível jornada de todo resistente gay
Cameron Cope (Miles Heizer) e Sargento Sullivan (Max Parker)
Por Milton Figueiredo e ChatGPT
Quando o jovem Cameron Cope (interpretado por Miles Heizer) decide se alistar nos fuzileiros, ele leva mais do que uma mochila: leva o peso de um segredo que a sociedade insiste em manter trancado. A década de 1990 — com seus olhos desconfiados, seus códigos de “ser homem” e seu silêncio obrigatório — torna-se o cenário perfeito para quem viveu à sombra do “quem eu deveria ser” versus “quem eu sou”.
Cameron chega à base com o uniforme limpo, o cabelo raspado, os pés firmes e o coração em brasa. Ele se junta ao amigo direto, o Ray McAffey (interpretado por Liam Oh), cuja mão ele aperta com a promessa de amizade — mas também com o temor de que aquele mundo, de fuzil, disciplina e “homem que não questiona”, não tenha lugar para um homem gay que viveu a infância aprendendo a se esconder.
E ali no acampamento, surge também a figura do soldado que, embora treinado para estar pronto para qualquer missão, carrega dentro de si o fardo de jamais poder revelar — seja para seus companheiros, seja para si mesmo — a vontade de simplesmente existir como é. Ele treina, obedece, sorri — mas por dentro, se esquiva de olhar no espelho que o mostra inteiro. Esse soldado que se esconde no recuo das palavras é, de certa forma, cada gay que viveu aquela época que não podia sequer pronunciar seu desejo em voz alta.
Boots não fala apenas do que escondemos ser, mas revela o esforço titânico que muitos fizeram — e ainda fazem — para se tornar aquilo que a sociedade espera de todo “homem gay”. A masculinidade, no contexto da série, não é apenas um traje: é um uniforme que cobre o desejo, que esmaga o abraço, que exige silêncio, que impõe esconderijo. E Cameron sabe disso: ele vive entre o “eu escondido” e o “eu que poderia ser” — tentando, passo a passo, encontrar forças para se afirmar sem ruído, sem violência, apenas com a dignidade possível.
E ao mesmo tempo, ele olha para aquele soldado escondido — talvez seu próprio reflexo — e pensa: “Se ele consegue manter a cabeça erguida, talvez eu também possa”. Ali, na farda, no corte de cabelo militar, no grito coletivo, na ordem unida, Cameron encontra um espelho inesperado. Não porque tudo seja igual — longe disso — mas porque a coragem de existir em silêncio ainda é coragem.
Quem viveu os anos 90 como descoberta, como desejo de ser e medo de aparecer, quem sabe o que é se esconder para simplesmente respirar, vai se identificar. Porque Boots mostra que a resistência — silenciosa, cotidiana, invisível — já é vitória. E honra? Honra é o estado de espírito de quem segue em frente, de quem treme mas se lança no mundo, de quem se veste de uniforme ou de simples camiseta branca e, ainda assim, decide não desvanecer.
Para todos os homens gays que viveram essa era — e para os que ainda vivem a era do esconderijo — esta série é abraço, espelho e farol. E Cameron Cope chega para lembrar: você está aqui. Você importa. E a honra de ser quem você é, no fim, é mais forte que qualquer ordem que te mande calar.